Goiás: Aromas do cerrado dão o tom na culinária do Estado

LUÍS SOUZA
Enviado especial à Cidade de Goiás


Quando se pensa no Estado de Goiás, a culinária não é a primeira coisa que vem à cabeça. Porém quem vai para lá sempre se surpreende e volta encantado com os sabores do cerrado.

Além dos mais conhecidos, como o pequi (fruta aromática) e a guariroba (espécie de palmito amargo), há muitos outros, exóticos ao paladar paulista, capitaneados pelas frutas, como a mamacadela, a mangaba, o araçá, o bacuri, o jenipapo e a cagaita.

Para celebrar esses aromas, a Cidade de Goiás, também conhecida como Goiás Velho, organizou seu primeiro Festival Gastronômico e Cultural. O evento teve seu ápice entre os dias 8 e 12 do mês passado. O tema foi justamente Uma Pitada de Cerrado.

"Estamos trabalhando a auto-estima da cozinha goiana", explica o presidente da Agetur (Agência Goiana de Turismo), Marcelo Safadi. O festival em Goiás Velho faz parte de um projeto maior. Foi o quarto evento do tipo no Estado neste ano, depois de Pirenópolis, Nova Veneza e Anápolis. A capital Goiânia também terá o seu.

"O objetivo é criar uma identidade gastronômica e assim agregar valor à oferta turística do Estado", continua Safadi.

O festival teve duas vertentes. Uma foi um banquete com ingredientes locais preparado por Mara Salles, chef do restaurante paulistano Tordesilhas, especializado em comida brasileira, e Eduardo Duó, que comanda a cozinha de pousadas em Ilhabela e em Piedade (SP). Eles foram auxiliados pelas chefs goianas Emiliana Azambuja e Cris Isaac.

A outra vertente foi o diferencial do evento -uma intervenção nos restaurantes locais para a melhora desses estabelecimentos.

Normalmente, em festivais gastronômicos, os chefs chegam ao local, fazem a comida e vão embora. Em Goiás Velho, houve interação com a comunidade.

Em companhia do decorador e artista plástico Fuad Murad, que concebeu, entre outros, o visual do paulistano Santa Gula, Eduardo Duó partiu para Goiás Velho algumas semanas antes do evento para visitar os restaurantes participantes. Os dois sugeriram mudanças, como na ambientação dos locais, no cardápio, e até deram dicas de higiene.

Depois, em conjunto com Duó e Salles, cada restaurante criou um prato para o evento ou requintou um que já existia.

"Houve grande empatia e interação com os cozinheiros locais. Acho que fizemos o primeiro festival dinâmico do Brasil", resume Mara Salles.

Vergonha

Um aspecto curioso percebido pelos chefs "forasteiros" foi que os cozinheiros de Goiás Velho tinham vergonha de receber o turista com comida simples.

Como o turista pode perceber ao visitar a cidade, no entanto, a beleza da culinária regional goiana está justamente nesta simplicidade, que se reflete nos fogões à lenha de muitas casas.

"Encontramos cozinheiros maravilhosos, mas que não sabiam da própria genialidade", afirma Duó. Ele explica que o melhor da cidade é a doçaria, pois os frutos do cerrado se impuseram e a sofisticaram. "O limãozinho recheado poderia estar em qualquer grande restaurante do mundo", entusiasma-se o chef.

Luís Souza viajou a convite da Agetur (Agência Goiana de Turismo)